Ontem à noite eu senti medo. Estava deitado pensando então veio o medo. Eu não queria aceitar a palavra, empurrava-a para longe do cérebro, mas ela voltava a se impor, eu estava tão fraco que não conseguia mais lutar. Vinha o medo frio, vinha o medo lento. Então eu chorei pela primeira vez, eu sabia que eram lágrimas pelo gosto de sal que elas deixavam na minha boca. Primeiro uma carícia brincando nos tornozelos, leve arrepio subindo pelas pernas, arrepiando as coxas. No ventre, solidificava-se feito compressa de carne mole, gelada. No peito apertava com se quisesse estancar o ritmo do coração, e na garganta implorava para ser transformado em grito. Um grito que quebrasse as paredes, que riam de mim, arrebentasse o teto, que me sufocava, como um cavalo selvagem. Mas junto vinha também o cansaço recolhido no fundo do corpo, recusando-se a atender ao pedido. Enfurecido o medo escalava o pescoço, fazia estalar a cabeça. Eu levava as mãos até as orelhas, apertava-as, sentia o liso frio das faces, implorava: não não não. Sem pausa, sem sentido, sem voz eu implorava como devem implorar os condenados à morte frente ao pelotão de fuzilamento. Sem empenho, porque jamais seria atendido. E de repente a dor cessou, pois minha irmã chegou, deitou-se ao meu lado, me abraçou e disse:
– Não tenha mais medo, não chore mais, eu estou aqui... E... Eu te amo!
Eu me encolhi devagarzinho e comecei, pela segunda vez, a chorar, mas não era um choro de tristeza era um choro de contentamento, era um choro de alegria, pois eu sabia que tinha alguém ao meu lado que sempre estaria comigo, alguém me amaria mesmo que eu ficasse na estrada, pois o amor que nos uni, nada pode separar, é o amor que somente duas almas reproduzidas no mesmo ventre podem sentir, o amor que dura mais que anos, dura a eternidade, o amor de irmãos do tempo.
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